Os distúrbios comportamentais de atenção e
hiperatividade parecem englobar, na realidade,
quadros comportamentais variáveis e associados
a diversas patologias do sistema nervoso central.
Muitos desses quadros parecem ter uma causa
genética, porém outros parecem estar associados
a outros tipos de distúrbios do desenvolvimento
cerebral.
Muitas mães de crianças hiperativas relatam já
uma atividade fetal aumentada, e um recém
nascido muito irriquieto. Geralmente, o
aprendizado da marcha é rápido e logo a criança
está correndo. Dificilmente fica parada, mesmo às refeições.
A noção de Tempo
O tempo organiza nossa vida. Determina
nossas rotinas. À noite dormir; levantar pela
manhã; ir à escola (trabalho); almoçar, etc.
Para muitas tarefas parece não ser
necessário o relógio. O cansaço nos faz ir
para a cama, a fome nos leva a comer, etc.
Mas você já reparou que a fome, em geral,
surge no nosso horário habitual de
alimentação, e o sono em torno da hora em
que, em geral, nos acostumamos a ir para a cama?
O cérebro utiliza muitos circuitos neurais para medir tempos, e
determinar os chamados ritmos circadianos: o ciclo vigília-sono,
os ciclos alimentares, hormonais, etc. Esses circuitos
desencadeiam a ação de outras áreas cerebrais que controlam
comportamentos básicos e repetitivos: sensação da fome, sono,
ovulação, etc.
Existem neurônios que são ativados quando um evento é
imaginado ou reconhecido pela nossa percepção. Imaginar ou
reconhecer um evento é integrar um conjunto de
acontecimentos dentro de um mesmo tema: sentarmos a mesa,
colocarmos comida no prato, comer, constituem acontecimentos
do evento "almoçar". Esses neurônios interagem com circuitos
neurais que se encarregam em registrar o tempo que dura cada
evento acontecido e também o tempo decorrido entre eles,
constituindo a memória retrospectiva. Quando eles interagem
com circuitos que se encarregam em definir o tempo de eventos
futuros constituem, junto com esses circuitos, a memória prospectiva.
MEMÓRIA RETROSPECTIVA
Juca inicia seu novo período escolar. Sua mãe o acorda, ele vai à escola, toma seu lanche, retorna para o almoço.
Para memorizar esses eventos, ele organiza a seqüência de suas atividades na memória retrospectiva.
Os neurônios que reconhecem eventos ou episódios encontram-se na região do hipocampo e constituem a chamada memória episódica. Outros neurônios vizinhos registram a seqüência em que esses eventos ocorreram: primeiro levantar; depois caminhar; depois lanchar, etc. Além da seqüência, também medem os intervalos de tempos entre esses evento, por exemplo: tempo lanche – tempo levantar é maior que tempo almoço – tempo voltar.
Os tempos de todos os eventos de nossa vida são assim registrados. Esquecemos de muitos deles, mas sempre guardamos os mais importantes. Por isso, falamos do passado sempre nos referenciando a eventos marcantes: Foi depois que Juca nasceu ....; Aconteceu quando Laura começou o Ensino Infantil ..., e assim por diante.
Essa cronologia fica registrada através da eficácia da conexão entre neurônios na região do hipocampo. Ali existe, também, células que quando ativadas provocam em nós a sensação de novidade e são chamadas de células de novidade.
No hipocampo existem inúmeros neurônios de reconhecimento episódico que nunca foram ativados e que estão estreitamente conectados às células de novidade. Quando um evento ocorre pela primeira vez, ele ativa fortemente um desses neurônios, e sua estreita conexão com a célula de novidade nos proporciona a sensação de novidade. Mas essa forte ativação afrouxa a conexão entre ele e a célula de novidade. Dessa forma, nas próximas vezes que o mesmo evento ocorrer a sensação de novidade será cada vez menor, pois o neurônio que agora reconhecerá sempre esse episódio estará cada vez menos conectado com a célula de novidade.
Lesões na região do hipocampo podem ter efeitos devastadores, pois podem destruir a nossa memória retrospectiva. Deixamos de reconhecer nossos familiares, nossos amigos, os locais importantes de nossa vida, etc. Tudo se torna novo para nós e precisamos reaprender tudo outra vez.
Alternativamente, as lesões podem destruir a capacidade de reconhecer o recente. Não perdemos nosso passado antigo, mas não podemos gravar nosso passado recente. A partir do momento da lesão, perdemos nossa capacidade de guardar o ocorrido. Já não podemos mais nos lembrar do que aconteceu minutos atrás.
MEMÓRIA PROSPECTIVA
Juca está planejando ir brincar com seus amigos depois que voltar da escola.
Para isso, ele organiza a seqüência de suas atividades na memória prospectiva ou também memória executiva ou de trabalho.
Mas precisa, também, utilizar informações da memória retrospectiva sobre sua rotina e tempo de duração e de distância entre seus eventos, para ativar circuitos controladores do tempo futuro no lobo frontal. É como se pudesse contar com vários despertadores, que podem ser colocados para ativar um comportamento (ir à escola; tomar lanche; ...; brincar) em tempos distintos, porém ordenados (primeiro escola; ...; por último brincar ).
Distúrbios da memória executiva podem acarretar diferentes tipos de problemas. Por exemplo, a criança pode perder a capacidade de planejar suas atividades, o que pode ter um efeito devastador em sua vida.
A hiperatividade e os distúrbios de atenção, característicos de um grupo de crianças, também têm relação com uma disfunção da memória executiva. Os circuitos frontais delas parecem ser incapazes de programar seqüências longas de eventos. É como se não pudessem utilizar despertadores para programar muitos eventos ou eventos que ocorram por mais que alguns minutos.
Imagine uma situação comum de sala de aula. Levantar; ir à lousa; pegar o giz; escrever o que a professora ditar, e voltar para a carteira.
A criança poderá programar, em sua memória executiva, apenas: Levantar; ir à lousa. No meio do caminho, pode se distrair com algum ruído e reprogramar sua memória: Ir à porta; verificar o que aconteceu.
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