Filmes nem sempre servem apenas para entreter, eles também muitas vezes podem ajudar a trazer uma maior clareza a respeito de condições mal compreendidas ou tratadas com indiferença pela sociedade.
Entre outros exemplos, isso foi o que aconteceu com os filmes Rain Man eTemple Grandin – que chamaram atenção para o autismo -, Melhor é Impossível – que chamou atenção para o transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) -, e Preciosa – que mostrou a cruel realidade do abuso infantil.
Agora um novo filme, que estréia no começo de fevereiro no Brasil, joga luz sobre a disfemia (gagueira persistente), um distúrbio de comunicação que por muito tempo foi alvo de preconceitos e incompreensões. O filme se chama O Discurso do Rei e ele vem sendo um dos grandes destaques da temporada de premiações do cinema em 2011.
Hoje, a família real britânica aparece com muita frequência nas revistas, jornais e TV. No entanto, no início do século passado, a exposição pública dos membros da monarquia não era tão excessiva. Só que isso começou a mudar drasticamente no final da década de 30, com a invenção do primeiro meio de comunicação de massa em tempo real: o rádio.
E justamente nessa época – de advento do primeiro meio de comunicação de massa e, consequentemente, de maior cobrança nas relações de comunicação do rei com seus súditos –, um príncipe com uma severa dificuldade de fala se tornaria soberano do império britânico.
O príncipe Albert, conhecido como “Bertie” por sua família, tinha gagueira persistente. O distúrbio iniciou na infância e o acompanhou por toda a vida. Por força do ofício, ele precisava constantemente falar em público. Ninguém sabia como ajudá-lo a amenizar a dificuldade, até ele começar a trabalhar com o fonoaudiólogo australiano Lionel Logue. A história está retratada no filme O Discurso do Rei.
Muitos fonoaudiólogos em todo o mundo, como é o caso do norte-americano Joe Donaher, do Hospital da Criança da Filadélfia (EUA), estão bastante entusiasmados em ver a gagueira sendo mostrada no cinema de uma forma realista.
“Com muita frequência a gagueira é mostrada nos filmes como uma falha de caráter. Mas neste filme a gagueira foi finalmente retratada da forma como ela é”, diz Donaher.
“A gagueira é um distúrbio de base neurológica e que muitas vezes possui raízes genéticas. Ninguém gagueja porque quer. A gagueira não é uma falha do indivíduo, e também não é uma falha dos pais”, explica Donaher.
Donaher afirma que os primeiros sinais da gagueira normalmente aparecem entre dois anos e meio e cinco anos de idade. Mais da metade das crianças que manifestam gagueira recuperam-se naturalmente, mas muitas precisam de apoio e tratamento especializado. Se essas crianças forem vítimas de bullying, por exemplo, a gagueira tende a piorar.
Apesar da gagueira, George VI conseguiu ser o líder forte que sua nação precisava durante a II Guerra Mundial.
Donaher, que viu alguns trechos já divulgados do filme, acha que ele será muito inspirador para as pessoas que gaguejam. “A mensagem do filme não é: ‘Se você deixar de gaguejar, conseguirá grandes coisas’. A mensagem é: ‘Você pode conquistar grandes coisas, mesmo tendo gagueira’”, conclui Donaher.
Veja abaixo a reportagem completa, com legendas em português:
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