Sintéticos, analítico-sintéticos, globais. Os professores têm várias ferramentas para que as crianças aprendam a ler e os pais não devem ficar de fora deste processo. Da palavra à letra, da letra à palavra, passando pelas sílabas, os pré-requisitos são fundamentais.
Aprender
a ler é um passo importante. Há vários métodos para ensinar a juntar as
letras e reproduzir os sons e os professores têm a tarefa de escolher
um ou mais para que a aprendizagem aconteça. Os pais têm também um papel
importante e brincar ajuda a valorizar o processo. Segundo os últimos
dados do Instituto Nacional de Estatística, referentes aos Censos de
2001, enquanto os números recolhidos este ano ainda não são conhecidos,
cerca de 9% da população portuguesa é analfabeta.
A UNESCO,
organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura, revela
que cerca de 16% da população adulta mundial não sabe ler nem escrever,
dois terços são mulheres. O Dia Internacional da Alfabetização foi
assinalado a 8 de setembro. No nosso país, há sinais de melhorias: 52,4%
dos jovens dos 15 aos 24 anos afirmam que a leitura é muito importante
para a vida pessoal num inquérito feito em março deste ano, no âmbito da
avaliação externa do Plano Nacional de Leitura (PNL). Em 2007, a
percentagem era de 30,6%. Em cinco anos de existência, o PNL "ajudou a
reforçar as competências de leitura" e agora quase 99% dos professores
garantem que os seus alunos leem mais.
"O processo de
aprendizagem é complexo. O aluno tem de perceber que as letras
reproduzem os sons da fala. Hoje, pede-se ao aluno que analise os sons
que produz, a língua oral, antes e em paralelo com a aprendizagem da
escrita." Ana Rodrigues, professora do 1.º ciclo do Ensino Básico,
explica o caminho. Há vários métodos de aprendizagem da leitura e da
escrita que se situam entre os sintéticos, analítico-sintéticos e os
globais. Mas esta aprendizagem requer alguns pré-requisitos
linguísticos, cognitivos e até emocionais.
Ana Rodrigues
aproveita o que considera oportuno de cada método para que os seus
alunos aprendam a ler. O importante é que os mais pequenos tenham já
algumas ferramentas como, por exemplo, uma boa discriminação fonológica.
E os professores têm a tarefa de trabalhar os pré-requisitos com os
alunos. "Por onde tenho passado, os métodos mais utilizados pelos
professores são aqueles que se dizem sintéticos ou
analítico-sintéticos", refere. E porque existem diferentes métodos?
"Diria que se deve a uma busca pelo método ideal. A pedagogia, a
psicologia, a linguística, entre outras, vão sofrendo evoluções e os
processos baseados nessas disciplinas, como a aprendizagem da leitura,
também", responde.
Ana Rodrigues não reteve uma imagem do
momento em que aprendeu a ler. "Não me ficou nenhuma recordação", diz.
Mas tem um episódio curioso para contar. Há quatro anos, numa turma
mista do 1.º e 4.º anos de escolaridade, constatou que, ao contrário do
que seria de esperar, foram os alunos do 4.º ano que mostraram interesse
pelas matérias e conteúdos da primeira classe. "Não esperava ver os
alunos do 4.º ano completamente fascinados com o processo de
aprendizagem da leitura e escrita dos do 1.º ano." "Falámos sobre isso e
eles, apesar de terem efetuado a aprendizagem da leitura há pouco
tempo, não tinham memória, consciência, do desenrolar desse processo",
lembra.
Manuela Sousa, professora do 1.º ciclo, refere que o
método mais utilizado para ensinar a ler é aquele que acompanha os
manuais, ou seja, o sintético. "É evidente, quer seja este método
utilizado ou outro, ele nunca estará a ser utilizado de forma
exclusiva", avisa. O professor tem a liberdade de misturar métodos. Para
a professora, mais importante do que isso são as estratégias
utilizadas.
"É necessário haver estratégia, gestão e todo um
conjunto de criatividade que permitam ao aluno aprender." A estratégia
não pode caminhar em apenas um sentido e os conhecimentos que o aluno
tem são importantíssimos para juntar as letras e começar a ler.
"Acredito que antes de iniciar qualquer tipo de aprendizagem na leitura e
escrita de palavras, frases, textos, há que insistir na parte
fonológica. Porque o ‘a' não tem sempre o mesmo som", explica. Para
Manuela Sousa, não há uma melhor maneira de as crianças aprenderem a
ler. "Há um professor, um orientador".
Neste momento, a
articulação entre o pré-escolar e o 1.º ciclo acaba por espicaçar a
curiosidade dos mais pequenos que têm ao dispor livros do Plano Nacional
da Leitura e que se habituam à presença das letras cada vez mais cedo.
Joaquina Quintas, professora do 1.º ciclo, também refere que há vários
métodos para ensinar a ler e a escrever. Da palavra à letra, ou da letra
à sílaba e depois à palavra, ou das histórias que conduzem à letra, há
de tudo um pouco para abrir as portas ao mundo das letras. "Não há um
método rígido".
"Normalmente, acaba por haver uma fusão de
métodos para uma melhor aprendizagem da leitura e da escrita." Os
professores podem escolher e adaptar o que acharem mais conveniente ao
grupo que encontram pela frente. Este ano, com o plano de leitura da
Língua Portuguesa, os docentes acabam por ter mais formação na área. E
se há um aluno que se atrasa? "O professor pode usar outras maneiras de
estar no grupo, outro método."
Joaquina Quintas aprendeu a ler
da maneira tradicional, da letra à palavra, pela memorização. Há mais de
30 anos no ensino, a experiência mostra-lhe que hoje as crianças
aprendem a ler mais cedo e com menos dificuldades. "Têm contacto direto
com os livros a partir do pré-escolar, dos três anos, e há muitos jogos
didáticos magnéticos, para construírem palavras." Há mais contacto com a
TV e com os computadores. A professora do 1.º ciclo chegou a ter alunos
que aprenderam a ler com o antigo programa da RTP "Rua Sésamo". Há uma
nova maneira de estar que naturalmente se reflete quando os mais
pequenos dão os primeiros passos na escola.
Aprender a brincar
Maria
José Araújo, professora da Escola Superior de Educação do Instituto
Politécnico do Porto, adianta que as crianças aprendem cada vez mais
cedo a ler e a escrever ao observar e ao interagir com os adultos e
amigos "em aprendizagens focadas em rotinas, histórias e atividades
sociais diferenciadas". "Há uma diferença entre colocar crianças a
memorizar letras e números, a fazer fichas estandardizadas sem
significado social, e o uso de diferentes formas de grafismo e registo
que permitem às crianças a possibilidade de usufruir de uma aprendizagem
pela descoberta", sustenta.
Literacia é uma prática social. As
crianças devem perceber o interesse e a importância do ato de ler e
escrever para que se sintam estimuladas por esse processo enquanto
atividade social. Maria José Araújo revela que "há diversos estudos que
mostram que os aspetos criativos e lúdicos de introdução e valorização
regular da atividade de leitura e escrita, facilitando a
consciencialização do que está a ser aprendido - mensagens escritas,
etiquetagem de cabides e materiais pessoais, ilustrações, vocabulário
visual, desenhos, recados, jogos, coleções de objetos, embalagens, etc.
-, são especialmente adequados para incentivar as crianças ao
desenvolvimento da linguagem escrita".
Os interesses são diferentes, os níveis e conhecimentos acerca da literacia variam, cada família e cada instituição têm diferentes formas e recursos para incentivar as aprendizagens. As crianças aprendem muito ao brincar, ao jogar, ao imaginar e fantasiar. E os mais velhos têm um papel importante nesse processo. "As crianças vão ao supermercado, ao hospital e a outras instituições onde exercitam constantemente a sua capacidade de leitura. É muito importante pensar no papel do adulto nesta forma de as crianças brincarem, pois é uma vantagem muito grande para a aprendizagem da leitura como prática de cidadania", refere.
Os interesses são diferentes, os níveis e conhecimentos acerca da literacia variam, cada família e cada instituição têm diferentes formas e recursos para incentivar as aprendizagens. As crianças aprendem muito ao brincar, ao jogar, ao imaginar e fantasiar. E os mais velhos têm um papel importante nesse processo. "As crianças vão ao supermercado, ao hospital e a outras instituições onde exercitam constantemente a sua capacidade de leitura. É muito importante pensar no papel do adulto nesta forma de as crianças brincarem, pois é uma vantagem muito grande para a aprendizagem da leitura como prática de cidadania", refere.
Os pais sabem
que brincar é fundamental, mas no correr do quotidiano e nas rotinas,
esse ato acaba muitas vezes por ser desvalorizado. Ao brincar, os pais
podem ajudar os filhos na prática da leitura e na escrita formal. "As
consequências para as crianças que não aprendem a ler e escrever são
muito grandes, quer a nível pessoal e psicológico, quer a nível social,
com implicações a longo prazo", repara. De forma a prevenir essas
dificuldades, as investigações sobre o assunto não param. Brincar surge
como uma vantagem neste processo. "Muitos professores argumentam que as
crianças que têm mais facilidade de aprendizagem dos conteúdos, que
exigem desenvolvimento cognitivo na escola, são aquelas que mais
brincaram".
FONTE DE CONSULTA: http://www.educare.pt/educare/Atualidade.Noticia.aspx?contentid=90393CF58673521CE0400A0AB8001D4F&opsel=1&channelid=0
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