A Ciência da Leitura é um verdadeiro manual para qualquer profissional que atua na educação, abrange uma vasta variedade de assuntos, recentes e com estudos de neuroimagem em dislexia e aquisição de leitura. O entendimento de transtornos relacionados à leitura, tais como a dislexia são marcas mais predominantes nesta obra. Repleto de exemplos e explicações neurocientíficas a leitura deste livro quase que se torna obrigatória para aqueles que atuam diretamente no processo de alfabetização de crianças ou fazem processos de intervenções.
Muitos estudos relacionados à compreensão da leitura foram realizados há um século, sendo que várias questões abordadas neste livro, mostram-se como novidade uma vez que trazem estudos pautados em imageamento cerebral, análise da genética molecular dos transtornos de leitura e modelos computacionais de diferentes aspectos do processo de leitura.
O livro caracteriza-se pela abordagem de sete temáticas fundamentais, subdivididas em interessantes capítulos:
- Processos de reconhecimento de palavras na leitura
Reconhecer palavras é a base da leitura, entretanto nem todos conseguem fazer isto com êxito. Existem leituras eficientes e outras ineficientes, ler envolve recuperar informações sobre a forma falada e o significado da palavra a partir de sua forma escrita, ou seja, ter acesso às informações armazenadas na memória.
- Aprendendo a ler e a escrever
Num mundo totalmente letrado talvez poucos pararam para pensar o quão é difícil aprender o processo de ler, quantos mecanismos são necessários para se ter excelência na leitura. Aprender a ler não é uma questão simples, envolve a decodificação de um código que por sua vez mapeia a linguagem falada sobre a linguagem escrita.
Entretanto, o ato de ler não inicia na escola ele tem preditores fundamentais que são a sensibilidade parental e a alfabetização doméstica. Os pais que são sensíveis às habilidades linguísticas emergentes de seus filhos usam técnicas de alavancagem para gerar vocabulário. Crianças de lares letrados tendem a ter bom conhecimento linguístico, além de bom conhecimento da escrita, preditores importantes da sua compreensão na leitura. Crianças que já vem para a escola com esses pressupostos básicos estão mais preparadas para aprender a ler.
Tornar-se letrado tem um grande impacto nas habilidades metalinguísticas. O letramento alfabético promove o desenvolvimento da consciência fonêmica, facilita o desenvolvimento da memória de curta duração e da repetição de não palavras, talvez por incentivar a atenção à estrutura fonêmica da fala.
Aprender a ler é uma busca complexa e envolve um longo caminho de compreensão científica desse processo.
- Compreensão da leitura
De que modo começamos a entender a maneira como a mente representa os significados transmitidos pela linguagem, seja ela escrita ou falada?
Uma proporção significativa de crianças apresenta déficits específicos no desenvolvimento de habilidades de compreensão da leitura. Apesar de terem habilidades de decodificação adequadas para sua idade, apresentam déficits específicos na compreensão de textos. Qual o papel da memória de trabalho na compreensão textual? Como as pessoas adquirem a habilidade de compreender o que leem?
- Leitura em diferentes línguas
Será que quem lê chinês tem dislexia? De que forma se dá a leitura no mundo oriental? Durante muitos anos, acreditou-se que aprender a ler em chinês era muito diferente de aprender a ler em um sistema alfabético. Todavia ao contrário do que se pensava, os caracteres chineses transmitem informações sobre sua pronuncia. A maioria dos caracteres em chinês (por volta de 80%) é formada por um componente radical (que está relacionado com seu significado) e um componente fonético (que fornece informações sobre o seu som). Apesar do conhecimento sobre a dislexia em chinês se encontrar em um estado ainda não bem documentado, há indicadores apontando que há uma proporção relativamente baixa de crianças chinesas descritas como disléxicas.
- Transtornos da leitura e da escrita
Estudos realizados a partir do século XIX vêm demonstrando que após uma lesão cerebral, alguns indivíduos perdem em graus variados e de várias maneiras suas habilidades antes fluentes de leitura e escrita. Conhecer estes possíveis transtornos de leitura e escrita, saber propor alternativas de melhorias para indivíduos com tais déficits é a proposta deste capítulo.
- As bases biológicas da leitura
Sendo considerado um acontecimento muito recente na espécie humana, a leitura depende de mecanismos cerebrais e o desenvolvimento desses mecanismos, que por sua vez são influenciados por mecanismos genéticos. Por exemplo, em estudos realizados sobre a leitura de pessoas com dislexia, SNOWLING & HULME(2013) nos dizem que a leitura no cérebro disléxico parece envolver áreas semelhantes às atividades em disléxicos, particularmente em determinadas regiões dos lobos frontal/temporal esquerdo. Mais uma vez, um desafio importante é relacionar essas diferenças em padrões de ativação cerebral com os modelos cognitivos da leitura e da dislexia e relacionar as diferenças genéticas com variações no funcionamento cerebral e, assim, com explicações cognitivas sobre como lemos e o que dá errado em transtornos da leitura como a dislexia.
- Ensino de leitura
“Se entendermos como as pessoas leem, e como essa habilidade se desenvolve, isso certamente terá implicações importantes para as melhores maneiras de ensinar as pessoas a ler.” (SNOWLING & HULME, 2013)
Sem esquecer a busca do significado da palavra lida, pesquisadores, tais como Snow e Juel defendem com firmeza a necessidade de ensinar as crianças explicitamente as correspondências entre as letras e os sons na leitura. O uso de instrução explícita em consciência fonêmica e estratégias de decodificação de base fonêmica, gera grandes melhoras na precisão da leitura em crianças com dislexia. Os autores colocam que sabemos muito sobre como ensinar crianças de desenvolvimento típico a ler e como ajudar criança com dislexia a superar suas dificuldades, entretanto precisamos ir além, precisamos colocar em prática nossos conhecimentos.
Os tópicos abordados foram breves pinceladas do que esta obra nos apresenta. Entender os mecanismos da leitura é fator primordial para aqueles que atuam no campo educacional, pois a base da escola é a leitura. Como educadores devemos primar pela excelência em nossos métodos de ensino, bem como no métodos de aprendizagens dos alunos. Então, para torná-los melhores leitores, devemos ter o entendimento de todo este aparato que está por trás do ato de ler, devemos primar pelo conhecimento advindo desta nova etapa construída através dos estudos de neuroimageamento, que são recentes e trazem novos temas para esta área.
0 comentários:
Postar um comentário